Talith é artista transdisciplinar com experiência em teatro, performance, drag, escrita criativa e poesia, relações internacionais, ciências sociais, estudos de gênero e política. É autodidata e adora experimentar diferentes mídias e materiais; elu inclusive faz a maioria dos seus figurinos e elementos que leva para o palco, a maioria deles de material reciclado. Talith mistura seu trabalho artístico com sua pesquisa acadêmica, que é sobre a exploração do gênero através do drag. Atualmente, elu apresenta "Lilith, the Quing", além de outres personagens, e participa dos coletivos Venus Boys, fluid.vision e BRag Cuture em Berlim.
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Luiza: Talith, vou começar do início. Por que Berlim?
Talith: Bom, a maior razão é porque eu queria. Eu já estava no final da faculdade e eu já não via um futuro pra mim no Rio de Janeiro. Eu não sabia como é que eu ia me sustentar financeiramente, eu não sabia como é que eu ia fazer nada. Estava terminando a faculdade, zero vontade de trabalhar naquela área (Relações Internacionais/UFRJ). E aí eu vim pra cá me perder pra depois me achar, basicamente.
Mateus: Falando da questão da faculdade, a gente sabe que você segue uma carreira acadêmica também. Então a minha pergunta é: como uma coisa influencia a outra, sua carreira artística e sua carreira acadêmica?
Talith: Então, eu voltei a estudar agora em 2021. Eu estava com saudade de estudar, mas ao mesmo tempo eu estava meio de saco cheio da academia. Eu estava gostando muito do que eu estava fazendo com meu trabalho. Comecei a fazer drag e isso literalmente mudou a minha vida. Eu estava numa fase bem depressiva antes e de repente eu tinha uma razão pra viver, pra fazer as coisas, pra me mover, pra me movimentar com a galera e com os coletivos. E aí de repente eu entro no mestrado (Mestrado em Estudos Latino-americanos na Freie Universität Berlin) e de novo, pensei: ai, que saco! É um monte de ler as mesmas coisas que eu sempre li.
Mas agora, de repente, eu comecei a ter outras matérias que são muito mais interessantes e que estão trazendo outras perspectivas que não são só essa do homem cis, branco e europeu. Tipo, muita coisa que me inspira muito! E aí, quando eu percebo, estou misturando tudo: minha vida é meu trabalho, meu trabalho é minha pesquisa, minha pesquisa é minha vida, que também é meu trabalho e minha pesquisa. Enfim, dá pra entender como que, do nada, virou tudo?