Tássia Reis é cantora e compositora natural de Jacareí, interior do Estado de São Paulo. Iniciou sua carreira musical em 2013 e seu som tem diferentes influências musicais, como o hip-hop, o R&B e o soul, além de contar sobre a sua própria história e vivências. Uma das primeiras rappers da nova música brasileira, com letras que abordam questões sociais, raciais e de gênero, ela tem ganhado cada vez mais reconhecimento e destaque. Em 2019, lançou o seu álbum "Próspera", que, além de ter sido aclamado pela crítica especializada, foi considerado pelo prêmio APCA um dos melhores álbuns do ano.
•
Tássia Reis: Eu sou natural de Jacareí-SP, mas sou radicada na cidade de São Paulo. Estou lá já faz uns 13 anos, no mínimo, desde antes de ter uma carreira musical. Então, São Paulo também já faz parte da minha trajetória. Tenho 33 anos, vou fazer 34 esse ano, sou leonina e me considero uma criativa. Eu conheci o universo da arte através, na verdade, da escola de samba da minha cidade, e todo o desenrolar da comunidade do samba ali acabou me levando para o hip-hop. Na época eu não entendia que eu já estava fazendo música, eu achava que era uma coisa muito de cultura e comunidade, o que de fato é também. Mas aí eu acabei indo para o hip-hop. Comecei a dançar primeiro, me tornei uma dançarina, dancei alguns anos. E depois eu comecei a escrever, e pra mostrar o que eu estava escrevendo, já com melodia, comecei a cantar. Aí descobri que eu podia cantar e assim a minha carreira artística foi acontecendo e crescendo. E hoje a gente está aqui, né? É isso, resumindo.
Luiza Maldonado: Conta mais detalhes de como é que foi o começo da sua carreira. Por que você decidiu ser cantora?
Tássia: Olha, eu fui pra São Paulo e eu já tava dançando há uns sete anos, mais ou menos. Eu dançava hip-hop, danças urbanas, a gente chamava até então. E aí eu fui percebendo que os caminhos que a dança podia me proporcionar dentro disso não eram os caminhos que eu queria e eu não estava contente com as possibilidades que eu poderia ter. E aí eu decidi estudar. Eu também estava meio desiludida amorosamente, meio chateada. Então eu falei: "ah, eu não quero ficar aqui". E também é essa sensação de, apesar de ser muito grata pela minha cidade, pela minha região (eu gosto de marcar esse território, esse lugar do mapa), eu também me sentia muito, tentando me encaixar numa cidade pequena, sabe? Pra uma artista como eu, pra uma pessoa como eu, que é extravagante, grandona, fica apertado.
E aí eu queria ver outras coisas, eu queria ver o mundo. Na época eu não tinha toda essa noção, mas eu sabia que eu precisava ir. Então eu fiz o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e consegui uma bolsa numa faculdade privada pra fazer tecnólogo em design de moda, e foi por isso que eu fui pra São Paulo. Eu escolhi um monte de cursos que tinham a ver comigo: moda, teatro, dança. Mas eu fiz meio sem estudar, vou ser bem honesta, eu não estudei pra prova. Mas eu consegui uma bolsa de 100%. Então eu fui embora da minha cidade.
Mateus Furlanetto: E você foi embora e você chegou na Europa. E essa não é sua primeira turnê europeia, né? Eu queria que você falasse como é que você compara a plateia dos seus shows no Brasil e aqui na Europa?
Tássia: Olha, é só a minha segunda tour europeia. Então eu acho que ainda tenho muito chão pra percorrer pra poder fazer uma análise mais completa sobre isso. Mas é muito interessante. Em países lusófonos, especificamente em Portugal, que eu fui pela primeira vez esse ano (da outra vez eu não tinha ido a Portugal), foi muito interessante ver a saudade, a nostalgia que as pessoas tem em relação ao Brasil no momento em que elas conhecem o artista ou a artista, que elas vão ao show. Então, eu fiquei com essa sensação de nostalgia em relação ao público brasileiro que está na Europa.
Mas também fiz shows em lugares que tinham pouquíssimos brasileiros, como Copenhagen, por exemplo, na Dinamarca. Foi o meu segundo show lá e ambas as vezes tinham pouquíssimos brasileiros. A galera não entende nada de português, mas eu costumo dizer que a música é uma linguagem universal. E a galera vibra muito e é muito interessante ver como as pessoas respondem à música, à melodia, à batida, a tudo o que está acontecendo. Vibram do mesmo jeito, né? Nas músicas que são mais fortes, estão vibrando forte, nas músicas que são mais melancólicas, estão ali melancólicas, curtindo também. Então a música é uma linguagem universal e eu senti isso em Copenhagen e senti isso no Schaffhausen na Suíça ontem. A galera tava muito vibrando e sentindo, apesar de não entenderem uma palavra do que eu estava falando em português. Acho que esse é o poder da música, sabe? E aqui (no show em Berlim) já tinha uma galera mais brasileira, apesar de ter pessoas de vários outros lugares também.
Acho que o mais legal de fazer tudo é poder ver como as pessoas reagem ao conhecer o seu som, a te ver no palco, porque é muito diferente de ouvir no app de música, é muito diferente de ouvir o disco (eu particularmente prefiro ao vivo do que no disco). Então eu acho que essa experiência é muito interessante e eu adoro um desafio também. Tipo, essa coisa de ver como é que a galera vai dançar. Por exemplo, dizem que em Copenhagen a galera não dança, mas nos meus dois shows todo mundo dançou muito. Então é muito legal ver como a galera reage ao molho brasileiro, ao sauce brasileiro, e eu fico muito feliz.